PV 23:13—14 | “ 13 Não deixe a criança sem disciplina, porque, se você a castigar com a vara, ela não morrerá. 14 Você a castigará com a vara e livrará a alma dela do inferno”.
Esta citação de Provérbios é frequentemente interpretada como a permissão — e talvez até o incentivo — ao uso da violência física e da punição como a “melhor” ferramenta para a criação de filhos.
No entanto, é essencial entender o contexto histórico e cultural desses versículos. Não podemos observar um único texto bíblico, isolado de contexto e do panorama bíblico e abraçá-lo como toda a verdade. Na verdade, nem mesmo precisamos ir tão longe deste texto para perceber que o assunto é mais complexo e profundo. Ainda em Provérbios (22:6) o texto bíblico nos ensina a “instruir a criança no caminho em que deve andar”, enfatizando a importância de orientar e ensinar, em vez de usar a força física.
Isto quer dizer que o foco destes Provérbios nunca foi a “vara” — como sinônimo de castigo ou violência física — mas sim a disciplina. A pedagogia da suavidade é enfatizada, e os pais são encorajados a educar seus filhos com persistência e conversas constantes. Ou seja, o texto fala sobre não deixar de lado o princípio fundamental de educar — instrução, exemplo, valores, presença parental, empatia, limites…
Os pais são aconselhados a disciplinar seus filhos como parte de um processo educacional mais amplo, e não simplesmente puní-los. Esta abordagem é incomum porque requer esforço! É mais trabalhoso dialogar do que castigar.
A disciplina cristã busca guiar e ensinar os filhos, ajudando-os a desenvolver valores, responsabilidade e autodisciplina. É um processo de orientação amorosa, baseada no diálogo e na paciência. A disciplina saudável não envolve violência física nem coação, mas sim a construção de limites claros, o estabelecimento de expectativas realistas e a promoção de um ambiente de respeito mútuo.
Existem abordagens educacionais baseadas em princípios cristãos, como a Disciplina Positiva e a Abordagem Montessori, que valorizam a disciplina construtiva e respeitosa, enfocando a cooperação, a empatia e a compreensão mútua.
Como diz a Dra. Jane Nelsen, “de onde tiramos a ideia absurda que para fazer uma criança agir melhor precisamos antes fazê-la se sentir pior?”. A disciplina baseada na coação ou violência física pode parecer proveitosa por produzir “resultados imediatos”, mas certamente tem efeitos negativos a longo prazo, como o medo, a submissão cega e a perda da confiança entre pais e filhos. Por outro lado, uma disciplina não violenta busca estabelecer limites claros, ensinar habilidades sociais, incentivar a autorregulação e promover a autonomia das crianças.
Ao adotar uma abordagem não violenta na educação dos filhos, estamos investindo em um relacionamento saudável e duradouro, baseado no respeito mútuo. Dessa forma, estamos construindo um ambiente familiar harmonioso, onde os valores cristãos são vivenciados em seu verdadeiro sentido.
Portanto, é fundamental abandonar a ideia de que a educação cristã necessita ser baseada na violência física. A verdadeira disciplina cristã está enraizada no amor, na orientação respeitosa e na promoção do bem-estar integral das crianças. Vamos caminhar em direção a uma educação cristã mais inclusiva, amorosa e compassiva, onde a disciplina é sinônimo de cuidado e crescimento saudável.